CRIA DE ACARÍ, DESTAQUE DA TAÇA DAS FAVELAS GANHARÁ OPORTUNIDADE NO FLUMINENSE
Alex irá se apresentar em xerém no dia 8 de março
As vielas da favela de Acari são pequenas para o tamanho do sonho de Alex "Bigode". O jovem de 16 anos, que foi o grande destaque na final da Taça das Favelas, chamou a atenção de grandes clubes do Rio e vive a expectativa de passar por um período de testes no Fluminense.
Na decisão do torneio, disputada entre o Complexo de Acari e Jacarezinho, no último dia 2, ele brilhou e marcou dois dos quatro gols na vitória por 4 a 2. Saiu de campo eleito o melhor jogador da final. Daí para chamar a atenção dos olheiros foi um pulo.
— Veio um do Vasco, veio outro do Flamengo. Disseram que gostaram de mim e que, se eu não ficasse no Fluminense, poderia procurá-los — disse Alex.
Quem acertou sua ida para o Tricolor foi Marcelo Di Almeida, gestor do Madureira e que mantém convênio com a Central Única de Favelas, organizadora do evento. Alex será federado pelo Tricolor Suburbano e emprestado ao Tricolor das Laranjeiras.
— Tem que fazer um trabalho nele para saber se vai dar certo ou não. Mas, pelo que vi na competição, acredito que dá jogador — disse Marcelo, que agencia Marcos Júnior, do Fluminense, e o meia Rodolfo, do Flamengo.
O período de testes em Xerém, onde fica a base do Fluminense, começa no dia 8 de março. O coordenador das divisões de base tricolor, Fernando Simoni, confirmou que o clube irá receber participantes da Taça das Favelas para serem observados.
— A ficha não caiu. Só vou acreditar quando estiver lá dentro — afirmou Alex.
A desconfiança se explica pela sua história de vida. Alex esteve por três anos na base do Artsul, de Nova Iguaçu. Por causa de uma decepção com o novo treinador ("Ele chegou com uma panelinha e deixou os jogadores antigos no banco"), deixou o clube.
Além disso, mora em uma favela onde a pacificação ainda está distante. Jovens com radiotransmissores em cada esquina dão uma mostra de como a sombra da violência se faz presente. Mas a alegria de ter uma bola nos pés é o motor para o sonho da vida melhor.
— Ele é apaixonado por futebol. Desde os quatro anos que não larga a bola. Na hora de comer, se escondia de mim e, no meio da pelada, os garotos me chamavam porque ele tinha desmaiado de fome — disse a mãe, Sueli, aos risos.
Alex brinca em um dos campos de grama sintética próximos de casa Foto: Guilherme Pinto O apelido Bigode incomoda Alex. Afinal, até antes da Taça das Favelas ele nunca havia sido chamado dessa maneira.
— Bigode é o meu primo. Só que quando a TV veio fazer uma reportagem comigo, começaram a me chamar assim. E aí pegou — contou.
Mas basta alguns minutos com Alex para entender que o bigode (ainda ralo, daqueles típicos de adolescentes) fazem parte de sua essência. Ele não o tira de jeito algum. Nas palavras da mãe, são o seu maior orgulho.
— Uma vez, ele quis raspar só um pouquinho do bigode, para deixar fininho. Mas ficou ruim, com um lado mais grosso do que o outro. Aí teve que raspar tudo. Quando se olhou no espelho sem nada na cara, caiu no choro — lembrou a mãe, Sueli.
Nas vielas da favela de Acari, ninguém sabe quem é o tal "Bigode" que fez sucesso na Taça das Favelas. Mas, se perguntarem pelo "Basset", o reconhecimento é imediato. E é por esse nome de guerra que Alex prefere continuar sendo chamado.
— Sempre fui "Basset". Quando eu era mais novo, tinha um cachorrinho dessa raça e vivia com ele. Então, começaram a me chamar assim — explica o jogador.
Ídolo joga na própria favela
Assim como recusa apelido que já foi até de artilheiro do Vasco, Alex chama a atenção quando o assunto são suas referências. Ronaldo? Messi? Romário? Nada disso, seu exemplo se chama Jonatan.
Não se trata de nenhum jogador que tenha feito história em um dos quatro grandes do Rio. Muito menos na Europa. O Jonatan em questão é um amigo de Alex, dois anos mais velho que ele, também morador de Acari:
— Ele faz umas jogadas que eu sempre tento imitar. Acho um jogador diferenciado.
Alex se diz feliz porque Jonatan finalmente conseguiu uma oportunidade. Também meia-atacante, ele fez testes para o América e foi chamado para integrar o time de juniores do clube.
— Até chamei ele para vir aqui (no campo de grama sintética onde foram tiradas as fotos). Mas não achei. Ele deve estar treinando — disse.
Se o inusitado ídolo já começou sua caminhada, agora é a vez de Alex mostrar que também tem futuro.
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