Em seu blog, João Marcelo Garcez publicou uma entrevista exclusiva com Francisco Horta. O ex-presidente tricolor, dentre outros fatos importantes, revela que a Unimed chegou ao Fluminense através de suas mãos. Sem mais delongas, confira o animado papo.
Foi este o recado que encontrei em meu telefone num sábado à noite, ao chegar em casa de um passeio com a família. Era o ex-presidente do Fluminense, cuja amabilidade parece não ter limites. Queria me chamar à sabatina que gravaria no Museu da Imagem e do Som, terça agora, para a série Depoimentos para a Posteridade. “Estou convidando meus eternos amigos.”
Encantado com a honraria, não titubeei em ir ao seu encontro, chegando ao MIS na hora marcada, antes mesmo do ilustre depoente. Não era um dia qualquer. Uma das figuras mais importantes do cenário cultural carioca estava prestes a gravar um testemunho de sua vida. Oitenta anos (faz agora, em setembro) passados a limpo. “Quando recebi este convite da Rosa Maria (presidente do MIS), pensei: ‘Estou com um pé no São João Batista’”, brincou.
O depoimento de Horta, de tão informal, acabou se tornando um bate-papo gravado. Fez questão de prestigiar todos os seus amigos da plateia, deixando-os à vontade para interagirem com ele – e não apenas os mediadores Sergio Pugliese, Marcos Eduardo Neves, Wagner Victer e Marcio Guedes. “Somos uma família. Ninguém ganha sozinho.”
Horta falou por horas, das 14h21 às 18h42, com um breve intervalo para um chá. O clima descontraído, porém, fez com que nem parecesse tanto tempo. Entre seus amigos, estavam ex-jogadores como Altair, Jair Marinho e Marco Antônio, que protagonizou o momento mais emocionante da tarde.
Ao contar do seu regresso ao Fluminense, num triunvirato com David Fischel e José de Souza, em 1999, lembrou que teria de montar um time com um orçamento muito baixo para os padrões da época (e, principalmente, de hoje). “Tínhamos que trabalhar com uma receita de apenas R$ 350 mil para todo o plantel. Como eu poderia montar um time melhor que o de 1998 com um orçamento quase três vezes menor?”
Foi quando teve então a iniciativa de ir procurar um patrocínio máster. “Fui sozinho à Unimed, que na época ficava ainda na Rua do Ouvidor, e procurei o doutor Celso Barros. Ele foi absolutamente encantador. Perguntou-me como seria e eu falei que ele só teria que se preocupar em arcar com os vencimentos da comissão técnica.”
Mesmo com o Fluminense na Série C do Campeonato Brasileiro, Francisco Horta havia conseguido contratar todos os profissionais campeões do mundo, nos Estados Unidos, em 1994. Para aceitar, Carlos Alberto Parreira só impôs a condição de receber em dia. “David Fischel sempre cumpriu isso. Foi exemplar.”
Trinta anos depois, tornava-se presidente do clube, montando o seu mais famoso time da história – a Máquina Tricolor. Discorreu sobre os grandes craques, as partidas inesquecíveis, a fatídica eliminação sob tempestade para o Corinthians, em 1976 – “Se vocês são fiéis mesmo, então vão ao Maracanã”, Horta provocava e promovia o jogo, num período em que a receita vinda da renda era fundamental aos clubes. “Foi a primeira vez que vi uma torcida de fora dividir o estádio com a da casa (65 mil ingressos fornecidos, revelou)” –, mas lembrou uma história engraçada sobre Marinho, o “bruxa”, na época em que promoveu o troca-troca de jogadores entre os grandes do Rio.
“Eu tinha obsessão por ele. Quando, enfim, consegui levá-lo para o Fluminense, tive problemas. Marinho era mulherengo.”
– Aonde você vai, Marinho? – eu perguntava.
– Às mulheres, doutor – ele dizia.
“Foi quando tive a ideia de jogar tênis com ele na concentração. Funcionou. À noite, exausto, não tinha mais ânimo para sair.”
Outra história hilária se deu com Vicente Matheus, então presidente do Corinthians – “Um homem inteligentíssimo, tudo que saía na imprensa a seu respeito (sobre frases erradas) era folclore” –, quando da contratação de Roberto Rivellino para o Fluminense. “Ele estava de posse de um cheque, mas que só poderia ser descontado na segunda-feira. Eu precisava ganhar tempo para que os bancos fechassem.”
Tomou-o então pelos braços e atravessou um túnel escuro que liga o Palácio Guanabara ao campo das Laranjeiras. “Precisava assustá-lo”. Foi quando Matheus revelou ter pavor de baratas. “É o que mais tem aqui”, Horta narrou, arrancando gargalhadas de sua plateia de amigos.
Para a posteridade. Foi mesmo assim o depoimento de Horta para o Museu da Imagem e do Som, que conta agora com este material valioso em seu acervo. Ao fim, recebeu da presidente do MIS um arranjo de flores. Dei-lhe um beijo, agradeci mais uma vez pela honraria e fui embora, em direção à Carioca.
No trajeto, lembranças de vários trechos de seu depoimento. Tão grande quanto a sua importância.
Não é todo dia que se tem o privilégio de testemunhar in loco a rica história de um dirigente-mito do nosso país.
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FONTE: BLOG DO TORCEDOR TERNO E GRAVATINHA/ NETFLU
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