Presidente revela plano para atrair torcedores da classe C, diz que Fla significou opressão e fez mal ao clube e alerta: trabalho é de longo prazo
Por
Daniel Lessa, Emiliano Tolivia e Rafael Cavalieri Rio de Janeiro
São quase quatro horas da tarde de uma segunda-feira de forte chuva no Rio de Janeiro. Poucos torcedores se arriscam a enfrentar o aguaceiro e o trânsito intenso para visitar as Laranjeiras, como é conhecida a sede do Fluminense Football Club. O troféu parece ser a única coisa a avisar que ali está o campeão carioca de 2012 - além de, é verdade, um torcedor orgulhoso, faixa de campeão no peito, em um dos bares do clube.
Peter Siemsen, de 45 anos, chega atrasado para a entrevista, vítima do engarrafamento, uma tradição carioca que ganha ainda mais corpo nos temporais. De blazer cinza e uma camisa social com detalhes tricolores, o presidente de um dos mais tradicionais clubes de futebol do Brasil está cansado, como ele mesmo diz. Mas é por um bom motivo: o 31° título estadual do Flu, confirmado contra o Botafogo um dia antes, fez sua agenda lotar. Mas o jovem dirigente tem muito mais a falar do que apenas sobre um novo Carioca a povoar a sala de troféus.
Peter Siemsen: Flu precisa ser reconhecido como clube popular (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
E Peter fala. Durante uma hora e meia, ignora o cansaço e fala mais do que Abel Braga esbraveja durante uma partida. Peter surpreende. Diz que o Fluminense é um clube popular e não elitista, o que seria uma revelação e tanto, mas soa mais como estratégia para angariar futuros tricolores.
- Um clube de futebol popular com milhões de torcedores não pode ficar restrito a uma classe social. Tem que ser um clube dos milhões de torcedores e tratá-los por igual. O Fluminense, por tudo que passou na década de 90, tem mais do que o direito de se sentir um clube popular, de se sentir um clube igual à população do Brasil ou até àquela população que mais sofre. É um clube de superação, que lembra o povo que cai, mas levanta, abre o sorriso e segue em frente - diz.
Peter também revela e ri. Diz que seus três filhos adoram vaiar o Flamengo quando a família passa de carro em frente à Gávea.
- É uma alegria só.
Mas a presença do rival nem sempre significou felicidade. Diz que, por muito tempo, o clube rubro-negro personificou a opressão, no sentido de que havia uma obrigação de que todos torcessem pelo Flamengo. Por isso, diz ele, o título de 1995, o do gol de barriga, foi uma de suas maiores alegrias como torcedor
(veja na foto abaixo).
- O título de 95 me deixou em estado de êxtase maior pelas condições. Era o centenário do Flamengo, o nosso maior rival durante muitos anos. O Flamengo causou muitos danos ao Fluminense em termos de perda de torcida, de opressão.
Rival que, se até pouco tempo atrás era visto como parceiro, agora é encarado com desconfiança. Peter mostra-se seguro de que o Fluminense vai estar, de alguma forma, ligado à exploração do Maracanã. Sobre a parceria que se desenhava com o Flamengo a respeito do estádio, o presidente tricolor se mostra bem menos cético.
A respeito do clube, o discurso é de austeridade e planejamento de longo prazo. A meta, daqui a alguns anos, é ter receitas que permitam ao Flu vender jogadores somente quando bem entender e não depender mais da Unimed. Mas sem abrir mão da patrocinadora, a quem Peter faz elogios e deseja ter sempre como parceira. Aliás, se Celso Barros, presidente da Unimed Rio, foi o primeiro, ao lado de Peter, a levantar o troféu de campeão carioca, há um motivo. O advogado especializado em propriedade intelectual e iatista na juventude explica.
- O Celso é a pessoa que mais merece essa taça. Nada mais justo para quem lutou durante tantos anos nesta fase de reerguer a marca. Hoje, lutamos para reerguer o clube, e esse trabalho é embrionário. Celso e a Unimed têm, da minha parte, o maior reconhecimento.
A resposta para a pergunta, quase uma provocação a ouvidos tricolores, se o Fluminense é campeão mundial e buscará o bicampeonato em caso de conquista da Libertadores, foi dada sem hesitação. Mas é melhor conferir abaixo, na íntegra, a entrevista do presidente.
GLOBOESPORTE.COM: Presidente, qual sua primeira memória como torcedor?
PETER SIEMSEN: Minha primeira memória como torcedor é de quando era muito pequeno, jogando futebol em Petrópolis, vestido de Fluminense da cabeça aos pés. Meu pai e meu tio, tricolores fanáticos. Lembrança forte mesmo é quando comecei a frequentar estádio. A primeira vez foi em 1975, no Maracanã, justamente contra o Botafogo. O Flu perdeu por 1 a 0, mas, como tinha a vantagem de poder perder por 4 a 0, foi campeão carioca. O primeiro campeonato que me lembro mais ou menos foi o de 1973.
Como é o Peter torcedor? Xinga muito?
O Peter torcedor mudou muito. Teve fases extremadas, outras mais calmas... Na final (do Carioca 2012) eu estava tenso. É um título que nos dá uma maior tranquilidade. Nosso foco tem a ver com estrutura, reorganização das finanças e aproximação da torcida com clube, é longo prazo. Você conseguir um título respalda e permite que continue trabalhando a longo prazo. Em geral, fico tenso, mas levo numa boa, sem xingamentos e sem chutes. Mas tenho histórias duras no passado. Em 1984, após o título (carioca) com o gol do Assis de cabeça sobre o Flamengo, tirei a bandeira do Brasil do Iate Clube e coloquei a do Fluminense. Descobriram, e ganhei uma suspensão. Em 1996, após sofrermos uma goleada histórica do Palmeiras (o time paulista venceu por 5 a 1 pelo Campeonato Brasileiro), chutei a janela e tomei seis pontos no pé.
O Peter torcedor já deixou de ir a algum evento familiar para assistir a um jogo?
Já deixei de ir a alguns eventos familiares para ir a jogo, isso é normal. Flu tem preferência. Evento familiar x jogo, o jogo sempre prevaleceu. Na final (do Carioca deste ano) eu apenas jantei rapidamente com a minha mãe após o jogo (Nota da redação: a partida decisiva foi disputada no dia das Mães).
Seus filhos já são tricolores?
Tenho três filhos, um de cinco anos, um de três e o mais novo tem um ano. Todos são tricolores. O de um ano, inclusive, está me dando um problema. Ele não tira a camisa tricolor de jeito nenhum. Não aceita trocar. Os outros também gostam. Quando passamos em frente à sede do Flamengo, na Gávea, todo mundo vaia de dentro do carro. É ótimo, uma alegria só. O primeiro jogo do meu filho de cinco anos foi naquela reta final de 2009, uma recuperação histórica. Ele ficou uma série de 11 jogos sem derrota. E um amigo dele, da mesma idade, cujos pais não são tricolores, também virou tricolor.
Recuperar a hegemonia do Carioca é uma meta de curto prazo do Fluminense?
(O Flamengo, em 2009, ultrapassou pela primeira vez o Flu em número de títulos estaduais, e depois chegou a fazer 32 a 30. Com a conquista deste ano, o Tricolor encostou no Fla, com 31 estaduais).
A luta é para recuperar o Fluminense como um todo. Ficar só comparando Carioca é pouco. Seria melhor comparar título brasileiro. Temos de ganhar mais três. A hegemonia seria legal? Sim, mas é pouco. Temos de buscar a hegemonia nacional e ganhar títulos internacionais também.
Presidente, qual o dia mais triste que você viveu como torcedor?
A maior tristeza, sem dúvida alguma, foi o primeiro rebaixamento (Nota da redação: rebaixamento no Brasileiro de 1996. Porém, por conta da descoberta de um escândalo de manipulação de resultados, o Fluminense foi mantido na Série A em 1997). Foi um baque. Nascer tricolor, escutar histórias, ler nos livros, testemunhar como o Fluminense é um clube grandioso e depois passar por algo tão terrível... Isso nos faz fraquejar e parecer tão frágeis. A forma foi muito dura, foi um nocaute, um momento sofrido. Eu estava escutando o jogo no rádio, passando pela praia do Leblon, e depois que caiu escutei um dirigente do clube, que não era o presidente, falando que os culpados eram os jogadores, o árbitro e o mundo, mas que eles tinham feito tudo certo. Nunca concordei com isso. Achei muito absurdo e fora de contexto. O culpado é sempre o comandante. Aquilo mexeu tanto comigo que resolvi virar sócio.
Peter Siemsen: "É preciso reerguer o clube" (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Já havia o sentimento de ser presidente do Fluminense?
Não. Ali surgiu um sentimento solidário e coletivo de querer ajudar. Nunca tive ambição de ser presidente. Primeiro, ajudava apenas torcendo. Depois fui ajudar na administração, e as coisas caminharam por um lado que nunca imaginei na minha vida. Achava que ser presidente era algo muito distante. Mas a vida nos prega peças, para o bem e para o mal, e surgem momentos incríveis. Está sendo uma experiência única, algo inacreditável e fora de série, nas alegrias e nas dificuldades.
Qual o momento mais feliz, a sua maior alegria como torcedor?
É difícil eleger apenas um momento de alegria. O tempo muda a percepção das coisas. Tive momentos muito bons. Na década de 80 foi tanta coisa legal. Em 1980 mesmo, um título maravilhoso pela idade que eu tinha, pelo momento da minha vida... (Peter Siemsen tinha 13 anos). Depois, o tri carioca de 1983/84/85.
Mas acho que o gol do Renato Gaúcho em 1995 foi algo que me deixou em estado de êxtase maior pelas condições. Era o centenário do Flamengo, o nosso maior rival durante muitos anos. O Flamengo causou muitos danos ao Fluminense em termos de perda de torcida e de opressão, o nome Flamengo foi muito usado... Havia pressão muito grande para crianças serem torcedoras do Flamengo. Nas escolas, as pessoas, os professores… Ganhar daquela maneira mostrou que realmente o Fluminense é um time de superação, de guerreiros. Foi muito bacana aquela vitória, um momento espetacular.
Mas senti alegrias enormes também nos jogos da Libertadores contra São Paulo e Boca Juniors (respectivamente, quartas e semifinal da Taça Libertadores de 2008). Não foram um campeonato, mas foi quase como se ganhar o campeonato. A recuperação de 2009 (o Fluminense escapou do rebaixamento ao ficar invicto nos 11 últimos jogos do Brasileiro, com sete vitórias e quatro empates) valeu como um campeonato. Foi melhor do que muitos títulos.
E o título de 2010 foi o auge da recuperação de um clube e que consolidou a marca tricolor como uma grande força. O clube já vinha nesse trabalho de recuperação e aquele momento fez o Fluminense voltar a sentir que é muito forte. Só precisa mesmo de um bom trabalho de organização e gestão.
O senhor vê como o papel da torcida nisso tudo?
A torcida vem dando show de alguns anos para cá. As ações que temos feito junto aos torcedores têm dado retorno extraordinário. Para a eleição, falamos para o torcedor se associar, para tornar o futebol politicamente importante dentro do clube. Mais de mil pessoas se associaram na campanha, só por causa do futebol, não por causa do social. Depois que ganhamos a eleição, quase 900 torcedores se associaram. Depois, lançamos o plano para o torcedor do clube pagar mais R$ 10 e ter direito aos ingressos dos jogos como mandante. Mais três mil torcedores se associaram. Desde que assumimos a presidência, foram quase cinco mil novos associados através do futebol e de programas que custam R$ 120 por mês. É um valor individual alto, mas para algo que dá direito a ir a todos os jogos usando a própria carteira de sócio. Se você cria algo legal, o torcedor vem junto.
O projeto do livro 110 anos serve para reforçar essa imagem de superação. O Fluminense hoje tem a imagem do povo brasileiro, tem essa faceta democrática. É um clube de superação, que lembra o povo que cai, mas levanta, abre o sorriso e segue em frente. A gente queria criar algo assim, então desenvolvemos o projeto que vai retratar 110 jogos do Flu com este espírito guerreiro. Aí pensamos: "Como vamos fazer?". O momento ainda é de austeridade. Estamos longe do equilíbrio. Aí o marketing veio com o projeto de "crowdfunding", que vocês chamaram de vaquinha coletiva. Em oito dias alcançamos o valor. Ou seja, é um projeto auto-sustentável. A torcida acredita. Temos também o "Tricolor em toda a Terra", que freta aviões para a torcida acompanhar o time. O retorno é maravilhoso. Para o jogo contra o Boca, a gente programou e organizou com a polícia de Buenos Aires um tratamento especial para o torcedor. Em função dessa organização, quatro mil tricolores se movimentaram de algum ponto do Brasil, e até do mundo, para Buenos Aires. Tudo isso foi organizado, sem qualquer tipo de confusão. Foi marcante. Ou seja, a torcida do Fluminense compra a ideia, acredita, está junto. Mas precisa confiar. E eles sabem que é algo de longo prazo, mas que estamos construindo passo a passo.
Há algo a mais previsto para os torcedores?
Estamos enviando três propostas de mudanças no estatuto do clube para o Conselho Deliberativo. Além da liberação da terceira camisa em outras cores que não sejam de rivais, estamos com um novo plano de associação. O torcedor pagaria algo em torno de R$ 40 para frequentar o futebol do clube sem ter direito à parte social. Ele não teria o benefício de pagar mais R$ 10 e ter direito aos jogos, como é o programa novo que lançamos, mas teria direito a ter meia-entrada. E o mais importante: ele vai poder votar. Todo sócio deve poder votar. Esperamos a aprovação para dar um passo significativo na democratização do clube. O último ponto é para simplificar a apresentação do balanço. Quem não é contador tem uma compreensão difícil. Queremos obrigar a apresentar também o fluxo de caixa. Só assim se consegue ver com detalhes a distribuição de cada verba. É algo que vai simplificar para os 300 conselheiros poderem entender o que foi feito com as receitas do clube.
O Fluminense sempre teve um discurso e até uma pecha de elitista. Seu discurso agora parece apontar um caminho oposto. É isso mesmo ou apenas uma impressão?
Não, é isso mesmo. O Fluminense tem uma tradição de ser uma torcida de elite, mas quem olhar no passado, quando o Fluminense nasceu, era o primogênito dos clubes de futebol do Brasil. Durante muitos anos, o Fluminense teve todo tipo de torcedor. Ele passou por um processo de se tornar meio elitizado, essa é a minha visão, porque durante muitos anos o Fluminense foi um clube muito forte do ponto de vista social. Para o cara se associar ao clube, era muito caro do ponto de vista de comprar o título, pagar a mensalidade. Acabou que os frequentadores do clube nas décadas de 40 e 50 eram muito elitizados. Isso acabou se transformando na imagem do clube. Mas clube de futebol popular com milhões de torcedores não dá para ficar restrito a uma classe social. Tem que ser um clube dos milhões de torcedores e tratá-los por igual. O Fluminense, por tudo que passou na década de 90, tem mais do que o direito de se sentir um clube popular, de se sentir um clube igual à população do Brasil ou até àquela população que mais sofre. Porque o Fluminense teve uma queda, mas superou-a. E continua superando. O Fluminense, toda vez que tem uma dificuldade, ele renasce. Ele luta, desafia, briga com os números, cria novidade. O Fluminense, de um tempo para cá, tem a torcida mais inovadora do Rio de Janeiro e certamente uma das mais inovadoras do Brasil. A torcida, desde 2007, vem criando uma mentalidade de não usar o clube, não precisar do clube para desenvolver. Cria megafestas, músicas criativas, mosaicos lindos. O Fluminense cada dia se associa mais e mais a um clube popular, um clube de todos. Primeiro, a imagem de superação, de garra, do que é a luta do povo brasileiro pelo crescimento econônico, pela melhoria de vida, da briga contra a corrupção, a violência. A gente vê o Rio de Janeiro se transformado, e o Fluminense está dentro desse miolo. O Fluminense e sua torcida têm a ver com essa mudança na história, o Rio de Janeiro está mudando e o Fluminense está mudando junto.
Mas essa imagem de elitista, que viria do passado, pode atrapalhar os planos do clube?
Não, temos de saber usar isso. Se a torcida do Fluminense, como vi numa pesquisa, é 57% formada por membros das classes A e B, ótimo. Usamos isso para o bem. Do ponto de vista econômico, quando lançar um produto, quando se associar à marca Fluminense, está se associando a uma parcela de 57% com alto poder aquisitivo de compra. A gente quer aproximar essa torcida do clube e criar um canal direto de comunicação. Então toda nossa ação pontual, de marketing ou de comunicação, vai lidar com o público comprador com alto poder aquisitivo. O lado ruim é que o ideal mesmo é o clube estar formado em todas as faixas das classes da população. Até porque o Fluminense, hoje, é um clube democrático. Tanto que essa associação em alto número é um convite do Fluminense à democracia, a seu sócio, ao torcedor de futebol a se associar, a ter direito à cidadania tricolor. Se a gente é brasileiro e vota, quem é Fluminense tem que votar também. Quantas pessoas dizem que o Fluminense é minha nação? Então, se é sua nação, entra de sócio e vota. Não é votar no Peter ou Joãozinho. Entra, vota, fiscaliza. E se tiver um tempo, ajuda. Assume cargo, função, vem trabalhar junto.
Grande parcela dos novos sócios é influenciada pelo resultado do futebol. Isso de alguma forma preocupa?
Ninguém pode fugir da realidade. Ela é essa. Quem vem tem de saber lidar com ela. Esse é o meu papel, não adianta querer enganar ou evitar. A primeira luta dos torcedores é o resultado. Mas não é só isso que define. Fui eleito com a oposição campeã do Brasileiro cinco dias antes. Se achasse que só o resultado fosse valer, dificilmente eu teria sido eleito. O que pesou foi a defesa para que o clube voltasse a ser Fluminense Football Club (Peter dá ênfase à palavra futebol). Tem de ter carinho pelos esportes olímpicos e pelo social, mas o foco principal é o que dá o nome ao nosso clube: o futebol. Na minha opinião, é importante trazer o torcedor para ser sócio e garantir um Fluminense forte. O Internacional fatura R$ 4 milhões só com os associados. O Grêmio, R$ 3 milhões. O Coritiba faz R$ 2 milhões. Quando assumimos, o Fluminense rendia R$ 400 mil. Agora chegamos a R$ 1 milhão e temos muito potencial para chegar lá no topo. O Fluminense vai se tornar financeiramente forte se chegar até esse valor. Hoje não é.
A Unimed, hoje, é parceira. Se amanhã Celso Barros se candidatar ou apoiar outro nome, o que você faria?
O Celso teria meu voto.
Peter levanta a taça de campeão na festa do
Carioca (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Você e Celso Barros foram os primeiros a levantar a taça pelo título carioca de 2012, uma cena representantiva. Como vê isso e qual é a relação hoje com a Unimed?
Eu adorei. Fui eu que botei a taça na mão dele. O Celso é a pessoa que mais merece essa taça. Nada mais justo para quem lutou durante tantos anos nesta fase de reerguer a marca. Hoje, lutamos para reerguer o clube, que ficou muito para trás. Esse trabalho é embrionário. O dele (Celso Barros) já está estabelecido. Um dos pontos fortes do Fluminense são os grandes elencos há muitos anos. Existem alguns escorregões? Claro. Mas sempre que era derrubado, o Fluminense voltava. E o clube passou a ter uma imagem forte fora do Brasil. É para reconhecer, elogiar e premiar um patrocinador que esteve ao lado em vários momentos. O Celso e a Unimed têm, da minha parte, o maior reconhecimento. Eu fiz questão de que ele levantasse a taça. Quero fortalecer a parceria e tocar as duas marcas em uma unidade ainda maior se possível.
É possível a vida sem Unimed?
Ainda seria muito difícil a vida sem a Unimed. Mas o clube vem sendo trabalhado para poder viver sem. Prefiro que esse dia nunca chegue. A Unimed também tem um retorno legal. Todos associam o Fluminense com a Unimed. É um "top of mind" incrível. É difícil ver um sucesso tão grande em uma empresa que coloque uma marca por apenas seis meses. Ninguém fica com aquilo associado. Só mesmo se for algo desconhecido. Aí é legal. Mas o que agrega uma marca tradicional se associar a uma camisa por um curto espaço de tempo? Em São Paulo, um minuto de publicidade é mais caro que no Rio. Então o patrocinador tem uma maneira diferente de encarar. De repente vale mais expor a marca no backdrop ou em um comercial. Mas aqui, não. Além da Unimed, que entrou no fim de 1998, temos também a Adidas, conosco desde 1996. É incrível a associação dessas marcas.
A Unimed tem parcela de direitos federativos de algum jogador? Ela influencia na hora de negociar algum atleta?
Não é participação. A Unimed tem algumas garantias dos jogadores que ela ajudou a trazer. É uma garantia para que possa ter o retorno do investimento. É como uma ação de marketing. A empresa compra uma campanha de publicidade para veicular em um meio de comunicação. Se o veículo rescindir, existe uma multa. Se o jogador não completar o período, a Unimed tem uma multa para receber o direito da indenização. Não é a Unimed comprando ou vendendo jogadores. As pessoas confundem isso. Qualquer outro teria direito a essa indenização em caso de antecipação do fim do contrato.
O Conca foi assim, a Unimed não influenciou na venda dele para a China?
O Conca e o Mariano foram assim. Eles tinham contratos de longo prazo de imagem.
Sobre a Adidas, a relação pode ser considerada satisfatória?
Estamos construindo uma relação diferente com a Adidas. Vamos ter cinco uniformes do Flu no mercado esse ano, é inédito. Vamos ter os dois modelos novos, a grená, a dos 110 anos, que será um kit em edição limitada, e a atual tricolor seguirá à venda. Como a nova número 1 será um pouco mais ousada, para os tradicionalistas não ficarem sem a camisa tricolor, a atual seguirá à venda. Teremos mais opções para crianças, trabalhamos na criação de novos produtos, trabalhamos na modelação de uma nova loja junto com a Adidas, da construção de uma nova loja do clube. Tem muita coisa para acontecer.
Sobre o balanço econômico de 2011. Pelo documento divulgado, a arrecadação com marketing teria crescido, de 2010 para 2011, 105%. Essa era uma das bandeiras de sua campanha. Como analisa esses números?
O nosso marketing cresceu em muitas coisas e em outras, nem tanto. Mas isso demorou um pouquinho. Em 2010, um mês antes da eleição, houve uma cessão do marketing por dez anos em troca de um adiantamento de R$ 5 milhões. Assumimos o clube com um contrato danoso, remodelamos e hoje estamos com vida nova. Mas sofremos seis meses com aquele acordo. Eles foram bacanas (Nota da Redação
: Peter Siemsen se refere à Traffic). Nós fomos abertos e repaginamos o acordo. O Fluminense tinha recursos parcos, tentando trabalhar, e nesse cenário ficou uma equipe jovem com quatro ou cinco pessoas. E era barata. Ficamos catando profissionais para contratar, mas a dificuldade era grande. E com o passar do tempo essa equipe foi mostrando que não precisava ir atrás de outros profissionais. O nosso vice, Idel Halfen, não está aqui todo dia, mas é um cara muito bom de mercado e de licenciamento. Esse crescimento foi uma surpresa para mim. O departamento teve uma queda, parecia que estávamos no caminho errado. Mas houve uma série de rescisões de contratos prejudiciais e depois veio o processo de crescimento, provando que o caminho está correto. Nossa equipe é muito legal, são torcedores. Eles trabalham como se fossem para eles. São garotos alcançando resultados que eu mesmo não acreditava. Nós contratamos uma empresa de comunicação que estruturou tudo também. O Fluminense não tinha Facebook, isso é inacreditável no mundo atual. Hoje são 323 mil seguidores em menos de um ano. É o maior crescimento do mundo, pois saímos do zero. Antes, tínhamos apenas o assessor do futebol. Agora, quem trabalha no futebol também gera conteúdo para o clube. Todos no marketing têm dupla função. Temos fotógrafo, assessor que trabalha com rede social... Mas nossa experiência de uma equipe de marketing jovem com uma equipe que é uma grife de comunicação está sendo sensacional. Gerenciar futebol não é fácil. Hoje além dos jornais, são dezenas de canais ávidos por informação. Atender a isso e também aos torcedores nos faz tomar decisões que são duras para o clube. Mas temos de ter austeridade e não se perder com a euforia. A torcida entende isso e sabe que o clube tem um potencial enorme. Mas avançamos.
Ficou assustado quando assumiu o cargo e tomou ciência da situação do clube?
Assustado é uma palavra forte. Sabia de problemas crônicos e graves. Não que eles estejam solucionados. Temos um caminho longo pela frente. Algumas coisas são piores do que eu imaginava. O Flu entrou no Timemania em 2007 e, até dezembro de 2010, não pagou um tributo (Nota da Redação: a gestão anterior, de Roberto Horcades, saiu em dezembro de 2010). Temos um hiato para lidar, que está sendo dificílimo, que é o não pagamento de tributos quase por três anos, que somam R$ 16 milhões em aberto. Seguimos no Timemania, só fomos excluídos do FGTS, pois repactuamos com a Caixa Econômica Federal. Mas temos esse hiato de INSS e Imposto de Renda, que é apropriação indébita retida na fonte, que não foi repassado e que temos de pagar alguma hora. Esses dois (INSS e Imposto de Renda), somados, dão R$ 10 milhões, mas não temos agora. Era algo não tão inesperado, mas não estava no visual dessa forma.
Presidente elogia Celso Barros e parceria com Unimed (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
E quanto a Xerém e as divisões de base?
Xerém foi uma coisa que nos assustou, realmente. Eu fiquei muito assustado com o nível do tratamento. Os campos estavam muito ruins, tudo em um nível inaceitável para que crianças e adolescentes morassem ali. O projeto Xerém foi o primeiro implementado na sua plenitude. Fizemos mudanças nas pessoas, captação de novos atletas, e a melhoria do que era inaceitável. Tudo ocorreu e começamos a colher frutos. Quem já estava produziu ainda mais, além dos outros que trouxemos. Estamos colocando jogadores no mercado inteiro, no Brasil e no mundo. O potencial de receita futura além do fortalecimento da marca é enorme. A parte 2 em Xerém é construir uma área técnica. O custo sai em torno de R$ 3,5 milhões. Ainda estamos tratando para ver como faremos, porque o custo é alto.
Há quem diga que a Unimed pode atrapalhar o desenvolvimento dos jogadores de Xerém, já que a patrocinadora contrata jogadores que, teoricamente, tiram espaço para o desenvolvimento de quem vem da base. Concorda?
Não concordo de jeito nenhum. O responsável pelas decisões do Fluminense sempre foi o Fluminense. Se no passado vendeu algum jogador de maneira prematura é uma questão do próprio Flu, assim como hoje o clube tem ao seu lado a Unimed. É fantástico para o projeto mesclar a experiência de grandes jogadores, nos quais o patrocinador investe, com os mais jovens. São ídolos que trazem referências e convivem com quem vem da base, com relação quase umbilical. Garotos que crescem dentro do clube e entram para o elenco com essas referências. É o melhor caminho, pois os garotos ganham uma visibilidade maior.
E a respeito da venda de jogadores da base?
Estamos trabalhando para evitar vendas prematuras. Mas por enquanto não dá, o Fluminense não fecha o ano sem vender. Aí acaba tendo de negociar um ou dois por ano, até ter o equilíbrio financeiro para apenas vender quando o valor for irrecusável. Aí você pega o dinheiro e, em vez de usar no fluxo de caixa, usa em estrutura, em compra de dívida trabalhistas. Fazendo isso, você saneia o clube em pouco tempo. É importante a torcida ter essa visão de que um é vendido para cinco atletas permanecerem. Se você produz em quantidade e qualidade, pode e deve fazer isso. É saudável para o clube.
Há algum nome para ser negociado agora?
Não entro em nomes porque temos propostas por vários jogadores. Tem proposta de investidores para mantê-los também. Mas a realidade é que, sem vender, o Fluminense não fecha o ano com a receita regular. Esquece. Em dois ou três anos, talvez, mas hoje não é possível.
A Unimed não poderia investir em jogadores da base, que já teriam uma identificação imediata com clube e torcida? O Wellington Nem não poderia ser trabalhado como um possível ídolo?
O Fred, por exemplo, é um jogador já tarimbado. Ele chega como referência. O Nem não chegou assim. Ele agrega com velocidade, juventude, tem um espírito legal, traz orgulho para a torcida. A convocação para a Seleção é muito legal. É o que nos possibilita continuar construindo. Mas não é só ele. Temos o Marcos Junior, o Wallace, o Patinho, que está indo para o Sporting-POR, emprestado. Estamos em um momento que não precisamos vender o Nem, mas, se chegar uma proposta, avaliamos. Já vimos clube recusar uma proposta e o jogador crescer, mas também vimos descer, jogador se machucar. O clube tem de entender isso e saber lidar. Agora, quando já há uma referência de ídolo, é preciso trabalhar para ele não ser vendido. Aí pode ser o caso de se mexer em outros jogadores para manter um por mais tempo. A Unimed já investe no Fluminense. No caso do Nem não é necessário, ele tem mercado, a Unimed já tem direito de imagem dele. Já o Deco, por exemplo, não tem mercado de venda. Ele é uma referência indiscutível, mas qual o valor de mercado? Não tem. Seu ganho é exclusivamente em campo. Mas o valor dele para o Fluminense é mil vezes maior do que o valor de venda dele. Seria um absurdo a gente querer fazer uma transação com Deco, não faz sentido.
É verdade que houve uma proposta pelo Wellington Nem? E que Abel Braga teria batido pé para que ele não saísse?
Não foi assim. O que houve foi uma proposta muito boa para um jogador que não tinha nem jogado no profissional do Fluminense. Na época, era uma proposta relevante. Estávamos propensos a aceitá-la, e o jogador tomou a decisão de não ir. Na mesma hora o Fluminense acatou, eu fiquei orgulhoso. Fiquei feliz por ver um jogador que mostrou vontade de ficar, que valoriza o Fluminense como instituição e que vai jogar com vontade triplicada depois de uma situação como essa. O Fluminense teve de se virar com as finanças em função disso. Talvez, na frente não vá ser ele (o negociado), vai ser outro, mas é aquilo… temos de trabalhar com a venda de jogadores. Ninguém tem mais de R$ 400 milhões em dívidas com uma estrutura ainda antiquada e fica impune a isso. Agora, se conseguirmos aprovar essa nova categoria de sócio e a torcida entrar em peso, vamos superar o problema de fluxo de caixa, antecipamos o equilíbrio financeiro e aí a venda só será concretizada por um valor irrecusável. Se a torcida apoiar, a gente encontra o equilíbrio financeiro e escolheriámos a hora de vender. Se a gente conseguir mais R$ 2 milhões de mensalidade, a gente encontra o equilíbrio financeiro e não venderia mais nenhum jogador por problema de caixa. É uma promessa.
Sobre a questão do CT, uma promessa de campanha, há novidade?
Prefiro não falar. Antes de mais nada, continuo torcedor antes de ser presidente. Eu mesmo me frustro por estar demorando tanto. Não quero mais tocar no assunto, o trabalho está em curso, há dificuldade em face do alto custo imobiliário no Rio de Janeiro. O clube não tem recursos para o projeto, tem de ser autossustentável e estamos trabalhando para que ele aconteça. Mas não há prazo.
Sobre a Timemania, há informações de que haveria um reescalonamento das dívidas, pois a loteria não estaria cumprindo sua função de reduzir as dívidas dos clubes em virtude do volume de apostas abaixo do esperado. Ouviu algo a respeito?
Não sei, a única pessoa com que conversei sobre isso foi com Marco Polo del Nero (presidente da Federação Paulista de Futebol). Ele disse no sentido de os clubes se unirem para tentar mudar a situação das dívidas tributárias. Isso é chave. Agora, só para as pessoas entenderem, há muita injustiça quando analisam os balanços. Lendo a análise do balanço do Flamengo, acheia-a muito injusta. "Ah, a presidente lá falou que a dívida ia reduzir, e a dívida cresceu para caramba". A análise não é essa. A dívida tributária não deve ser mexida. Você mexer no seu fluxo de caixa para pagar dívida tributária, fora pagar a mensalidade da Timemania, é jogar dinheiro pela janela. É uma dívida complexa, todos clubes têm, e ela precisa ser tratada em conjunto. Tem de ser, sim, um projeto do Congresso, do governo e dos clubes para resolver isso. Se a solução for muito onerosa, muitos clubes não vão aguentar. Não adiantaria de qualquer maneira. Ela não sendo tão pesada, permitirá maior capacidade econômica do mercado, que vai conseguir investir melhor em jogadores e infraestrutura. A única coisa que acho é que a solução dessa dívida deve vir acompanhada de contrapartida. Que os clubes tenham a obrigação de uma meta fiscal, de não poder gastar mais do que recebem, não podem gastar xis porcento do orçamento com folha salarial em relação à receita. Seria preciso haver um arcabouço de contrapartidas para que a gente partisse da estaca zero com responsabilidades.
Por exemplo, a mesma questão do Flamengo é a do Fluminense. Houve uma correção da dívida, correção de R$ 41 milhões, parte dela trabalhista, parte tributária. A primeira, pagamos o valor de face no ato trabalhista. No dia em que o Fluminense encontrar o equilíbrio financeiro, haverá a possibilidade de, quando houver receita extraordinária, pegar minha dívida trabalhista e comprá-la mais barato. Às vezes até 50%, 60% mais barato do que o valor de face. Pegar uma dívida parcelada em dez, 12 anos, e reduzir o tempo dela. Quanto mais rápido pagarmos essa dívida trabalhista, mais rápido haverá poder de investimento do clube. Clube com capacidade de investimento é a receita do sucesso. Mas a dívida tributária é outra coisa.
O que pensa sobre a hipótese de o clube ser punido por não cumprir metas fiscais, por não pagar dívidas acordadas na Justiça, inclusive com punições esportivas?
Apoio. A punição teria de ser o dirigente deixar de ocupar o cargo passando até pelo rebaixamento de divisão do clube. O clube só voltaria quando se enquadrasse nas regras fiscais e financeiras do programa. Só uma coisa, eu penso assim, mas não lidero nenhum movimento. Não tenho condições de trabalhar nisso, hoje meu foco é 100% o Fluminense. Agora, se alguém levantar essa bandeira, tem o meu apoio.
Sobre a dívida do Fluminense, a relação entre receita e dívida bruta realmente cresceu?
Na nossa gestão, não geramos nenhuma dívida trabalhista nova, mas cresceu por causa da correção. Geramos pouquíssima dívida fiscal e tributária nova. Pelo contrário, fizemos um acordo com a Caixa Econômica Federal, pois estávamos excluídos do parcelamento do FGTS. Junto com esse novo parcelamento, fizemos um trabalho de avaliação dos débitos. Fizemos um cruzamento de informações e conseguimos reduzir cerca de R$ 3,5 milhões em dívidas. Porque o clube fez acordos trabalhistas no passado e não deu baixa na Caixa. Pelo que reduziu de acordos e pelo que conseguimos de vitórias na Justiça, acabamos diminuindo a dívida em si. Mas, obviamente, pagamos um preço que que é a correção da dívida, que foi, repito, de R$ 41 milhões. Isso é metade do faturamento do clube. Temos de lidar de uma forma pontual. Não vamos tocar na dívida tributária, o tratamento dela é junto ao mercado. O foco para pagamento é na trabalhista.
Como está a relação com o Flamengo após a questão do Thiago Neves?
Cada um cuidando mais da sua vida, com pouco contato. Tem a comissão "Os Cariocas", criada pelo presidente do Botafogo, que trabalha em projetos e sugestões para melhorar o Campeonato Carioca. É a única relação mais próxima com o Flamengo.
Sobre o Maracanã, havia uma conversa de Flamengo e Fluminense se associarem...
Ainda não saiu o processo de concessão. Está se especulando a IMX associada à Odebrecht. Temos contatos e conversas com a IMX, até em outras questões. Temos uma relação fantástica com a IMX. Não sabemos se ela será a concessionária, mas se ela vier a ser, certamente que a relação com o Fluminense tende a ser estreitada.
O Flamengo estaria junto?
O Flamengo pode ou não ter uma participação. Cada um cuida da sua relação. Essa pergunta tem de ser feita para o concessionário. Quer ter como parceiro um, dois, três, quatro clubes, vai ter eventos, shows? Os interesses deles, concessionários, precisam ser vistos. O Flamengo resolveu trilhar o caminho sozinho. Não tem problema. Hoje, o Fluminense é extremamente pragmático e trabalha em cima do que existe. Caso seja a IMX, estamos confiantes de que o Fluminense estará nesse projeto. O Fluminense já é usuário do Maracanã há 63 anos, por direito. Foi o Fluminense quem fez o primeiro gol do Maracanã. A única coisa que eu garanto é que não há concessionária que assuma o Maracanã e vá se livrar do Fluminense. A disputa é boa. O Flu e o Maracanã nasceram unidos e vão continuar assim.
Sobre a promessa de campanha de um fundo de investimento dos jogadores?
Está acontecendo, mas é um assunto tratado sob sigilo, até porque envolve investidores. Vamos testar para, quem sabe, um dia ter um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) de jogadores. Uma coisa é ter uma empresa de jogadores, com poucos investidores de muita grana. Botafogo faz isso bem feito, Vasco fez alguma coisa recentemente, e o Flu pode trabalhar para ter isso. Outra coisa é ter um fundo FIDC, que tem um custo anual de R$ 400 mil. Não sei se isso seria viável, é um custo alto. Mas nada é impossível, com queda de juros, a remuneração do dinheiro fica mais complicada. Mercado imobiliário no topo, dinheiro parado no banco com remuneração de taxa selic pagando cada vez menos... Talvez um fundo FIDC possa ser atraente, até porque o mercado de direitos federativos, no Brasil, está consolidado. Quando houver a primeira opção, ela tiver sucesso e credibilidade, acho que pode explodir. Mas, no momento, é um sonho, pois o custo anual é muito alto. Acho que teria de funcionar com cesta de jogadores, não com todos. Mas, por ora, é um sonho.
Peter com Fred na festa do Flu pela Taça GB
(Foto: Edgard Maciel de Sá / Globoesporte.com)
Qual sua avaliação sobre o elenco do Flu? Independentemente do resultado da Libertadores, é preciso se reforçar para o Brasileiro?
O elenco é muito forte, nosso comandante está dando um show. Reforços, só mesmo se for uma questão de oportunidade. É difícil hoje olhar uma posição em que faltem boas opções.Temos o melhor goleiro do país. Para a Copa de 2014, já tenho o meu favorito: Diego Cavalieri. Na lateral, o Bruno tem uma experiência boa e vem crescendo ao longo do ano. Além dele, temos o Wallace, que é uma promessa, acabou de completar 18 anos e já jogou em todas as seleções de base. Vai subir também o Julião, outro com potencial imenso. Na lateral esquerda, temos o Carlinhos jogando futebol de Seleção Brasileira. Na reserva tem o Carleto, que quando entra parece titular. Fiquei feliz de vê-lo na festa com a bandeira de uma torcida. Ele criou um laço em tão pouco tempo. No meio é muita qualidade. Os volantes são todos maravilhosos, cada um com sua característica. O Diguinho vinha sendo um dos melhores do time. Saiu e entrou o Jean, que manteve o alto nível. Na frente, temos o Deco, que dispensa comentários, e ainda quer jogar por mais uma temporada. O Wagner sofreu com um período de adaptação, mas entrou bem na final e vai nos ajudar.
No ataque é brincadeira. Fred, Rafael Sobis, Rafael Moura, Samuel, que é uma promessa muito boa. Pelos lados o Wellington Nem e o Marcos Junior. Foi o que disse, se houver uma oportunidade, como foi o Thiago Neves, por exemplo, quando contamos com a Unimed, vamos atrás. O Thiago foi a melhor aposta que poderíamos ter feito. Uma garra e humildade incríveis.
Mas e a zaga, setor tão questionado pela torcida tricolor?
No evento Tricolor em Toda a Terra, na Argentina, todos me questionavam: "Zagueiro?". Os zagueiros que todos vivem questionando, confio muito neles. Ainda temos um da base com potencial imenso, que está voltando agora, o Elivélton. A zaga campeã brasileira em 2010 é uma tremenda zaga, Gum e Leandro Euzébio. O Anderson cresce com o grupo, o Digão sempre prova o seu valor quando entra, contra o Boca talvez tenha sido o melhor jogador, ao lado do Deco. Se houver uma oportunidade de mercado, o Rodrigo Caetano está trabalhando, seja qual for a posição.
Última pergunta: o Fluminense é campeão mundial? Se ganhar a Libertadores significaria buscar o bicampeonato?
O sonho é ganhar a Libertadores e buscar o bicampeonato mundial! É claro que 1952 é o nosso Mundial. Ninguém pode diminuir o passado. O brasileiro teve um momento de apagar o passado. Resgatar a história é um ponto-chave para entender qualquer coisa. Não é justo não dar ao Flu o que ele fez e construiu na história. Foi o primeiro clube a receber uma medalha olímpica, com o tiro, em 1920, na Antuérpia. Temos ainda a bola do primeiro jogo da Seleção Brasileira, que foi disputado nas Laranjeiras, onde a Seleção foi formada. O Brasil precisava de um estádio para disputar o Sul-Americano, o primeiro campeonato internacional de seleções no Brasil? Os sócios do Fluminense se cotizaram e construíram o estádio, que é o das Laranjeiras, onde o Brasil conquistou seu primeiro título. Temos João Havelange e Carlos Nuzman, que nasceram aqui para o esporte. O Fluminense tem tanta coisa que ele contribuiu na história do Brasil como sociedade e esporte.
Temos um grupo de quatro pessoas totalmente focado na reconstrução da história tricolor. O campeonato mundial de 1952 foi tratado assim, e assim é tratado pelo Fluminense. Para mim, pouco importa se a Fifa não considera. O Flamengo não disputou o campeonato de 1981 e sua torcida não considera um título mundial? E também não está nos anais da Fifa? Para nós, 1952 é a mesma coisa. Ganhamos o campeonato e temos, sim, o direito a ser reconhecidos como campeões mundiais. Como nós nunca deixamos de nos considerar campeões brasileiros em 1970. Os jornais sempre nos trataram assim. Porque mudou de nome do torneio, não temos direito? E quem foi lá pagar ingresso? E quem jogou? As pessoas são injustiçadas, mas aqui isso não vai acontecer. Somos campeões mundiais.
FONTE: globoesoporte.com
DIVULGAÇÃO: Blog. Dudé Vieira.