Ex-jogador do clube nos anos 1980 é o principal candidato de oposição ao presidente Peter Siemsen, que ainda não confirmou se disputará o pleito
Por Edgard Maciel de SáRio de Janeiro
No fim da manhã desta segunda-feira, em um edifício a poucos metros da sede das Laranjeiras, Deley lançou oficialmente sua candidatura à presidência do Fluminense. Apoiado pelos grupos de oposição ao mandatário Peter Siemsen, o deputado federal, sob o slogan "Modernidade e Tradição", afirmou que aceitou o desafio de concorrer por dois motivos: o apelo de tricolores conhecidos insatisfeitos com a atual gestão e também para mudar a estigma de que boleiro não tem condição de comandar um clube de grande porte.
Sentado ao lado de Julio Bueno, candidato derrotado por Peter em 2010, e Nelson Rodrigues Filho, Deley reforçou mais de uma vez que não queria demonizar ninguém, mas enumerou críticas à atual diretoria do clube. Com o discurso afiado, fez questão de reforçar ainda que não é candidato de nenhum nome em especial. O ex-vice de futebol Alcides Antunes também marcou presença no evento. Roberto Horcades, que presidiu o Tricolor por seis anos, de janeiro de 2005 até dezembro de 2010, não compareceu, embora também apoie Deley.
- Quero resgatar o Fluminense que encontrei quando cheguei, que era referência. Temos que nos juntar para fazer um Fluminense grande. Não sou candidato do Horcades, do Júlio Bueno, do Zé ou do Mané. Estou atendendo ao apelo de um grupo de pessoas insatisfeitas. Pessoas que viram que várias promessas não foram cumpridas. Me associar a alguns nomes é a estratégia do outro lado. Não aceito também a alcunha de ex-jogador. Se os clubes hoje devem bilhões, a pergunta que eu faço é a seguinte: dentro dessa dívida, alguma parte foi adminstrada por um ex-jogador? Não. No Bayern de Munique, o conceito para ter um cargo lá dentro é ter jogado bola. Por que nós aqui não podemos? Há um descontentamento com a atual situação, algumas decepções. Não vim aqui para demonizar, para falar mal de ninguém. Queremos levar o debate ao bom nível, mas, como disse Ulysses Guimarães, se me cercar eu ataco. Ninguém ganha no grito - disse Deley, que defendeu o Fluminense em 280 partidas entre 1980 e 1987.
Não sou candidato do Horcades, do Júlio Bueno, do Zé ou do Mané. Estou atendendo ao apelo de um grupo de pessoas insatisfeitas"
Deley
Atualmente em seu terceiro mandato na Câmara, Deley rechaçou qualquer problema para conciliar sua atuação como presidente, caso seja eleito, com seu cargo de deputado federal. Como parlamentar, o ex-jogador precisa estar em Brasília de terça a quinta-feira.
- Todos os ex-presidentes tinham suas vidas profissionais. Vou conciliar da melhor forma possível. E vamos montar uma baita equipe para ter o melhor amparo possível. Pode ter certeza que nos momentos necessários nós vamos estar presentes. Terça e quarta em Brasília, mas na quinta já estou de volta. Se tiver de dormir nas Laranjeiras para resolver os problemas do Fluminense, eu vou dormir. Não posso e não vou partir da premissa de que estou me metendo em um local em que todos são ladrões. Se for assim, é melhor pegar as nossas coisas e ir embora para casa. Estou lá em Brasília como parlamentar e estou aqui como pré-candidato porque eu acredito que a gente possa contribuir bastante, principalmentre pelo grupo e pelas pessoas que estão ao nosso lado - frisou.
Hoje com 54 anos, Deley chegou ao Fluminense com 15 para jogar nas categorias de base do clube. Subiu aos profissionais em 1980 e conquistou o Campeonato Carioca daquele ano, sendo titular da equipe. Depois, fez parte da equipe que foi tricampeã estadual em 1983-84-85 e venceu o Campeonato Brasileiro de 1984. Disputou uma partida pela seleção brasileira principal.
O pleito no Fluminense para o triênio 2014-2016 está marcado para o dia 23 de novembro, um sábado, nas Laranjeiras. O presidente Peter Siemsen ainda não oficializou a disputa pela reeleição, mas deve fazer isso até o começo do mês que vem. A inscrição das chapas será realizada entre os dias 1º e 15 de novembro.
Confira outros trechos da entrevista de Deley:
RECADO À JUVENTUDE DO FLUMINENSE
Sei que essa garotada, alguns representantes desse movimento que participaram do processo eleitoral de 2010, eu convidei para ir a Volta Redonda. Dizia que eles tinham que participar. Quando escolhemos o slogan 'Modernidade e tradição', é porque quem não quer se modernizar não pode mais se meter no futebol. Falavam em um novo Fluminense na última eleição, mas me parece que não há novo Fluminense. A gestão poderia ser melhor conduzida. Veja essa briga com a Federação... Posso até não gostar de alguém, mas tenho que dialogar. Não posso sair soltando foguete na porta da Procuradoria... Quando falo em tradição, falo que qualquer entidade não pode jogar sua história no lixo. Minha gestão em Volta Redonda é de modernidade. Não há dinossauros aqui. Há sim um respeito muito grande a pessoas que ajudaram a construir essa história vitoriosa, que querem ver o time ganhar. Não tenha dúvidas de que vamos ter uma relação harmoniosa. Tenho 20 anos de vestiário. Isso pode agregar alguma coisa. Xerém tem de ser a nossa fábrica. Quero criar conceitos diferentes. Se vou conseguir? Não sei. É um desafio. O Neymar foi para o Barcelona e já mudou o penteado. Não estou dizendo que sou careta. Meus filhos usam o que querem, mas o conceito de respeito é mostrar o que representa jogar no Fluminense. Me dá arrepio quando escuto treinador dizer que se o torcedor quer show ele precisa ir ver a Ivete Sangalo. Fico mal com isso. Gosto de time que ganha e dá prazer ao torcedor.
PARCERIA COM A UNIMED
É preciso ter uma visão pragmática. É o melhor patrocinador do Brasil. Já tive oportunidade de falar com o Celso e vamos viver em clima de muita harmonia. Escuto pelos jornais que em alguns momentos a atual administração sai na pancada com o patrocinador. Estamos falando do melhor do Brasil. Não vou sair na pancada com ele nunca. Vamos sentar e conversar. As divergências são saudáveis. Com todo o conhecimento que a gente adquiriu no campo, vamos poder argumentar. É estender o tapete vermelho para o Celso. Ele é fundamental, uma figura importante da história do Flu. Ele começou a ser parceiro quando o clube estava em uma situação caótica. Quero ele como parceiro. Se na Unimed tem quem conteste o patrocínio, pretendo mostrar que a relação é espetacular para os dois lados. Temos que harmonizar e tirar proveito dele. Vamos pensar em Xerém, por exemplo. Quero ser campeão, quero ganhar a Libertadores. Há muito tempo eu não chorava como em 2008. Não é corporativismo, paixão barata. Nunca tinha visto o Maracanã tão bonito como naquela final. Precisamos resgatar os conceitos. Nada será feito da noite para o dia.
ESPORTES OLÍMPICOS
O que eu não vou fazer de jeito algum é prometer o que eu não posso entregar. O Ministério tem de achar um caminho. Fico sempre batendo na tecla: qual o modelo do esporte brasileiro? Preciso saber. Fui a Cuba conhecer o modelo deles. É uma pobreza danada, mas tem um modelo definido. Nos Estados Unidos é o esporte universitário. Temos que ver a Lei de Incentivo ao Esporte. Quando as dívidas forem quitadas, quando tivermos as nossas certidões, vamos poder trabalhar. Já estive com pessoas da área de esportes olímpicos do Flu. Sei que muitas coisas foram prometidas e não foram cumpridas. Vemos a garotada abandonada. Nosso debate vai ser sempre com honestidade. Não encontramos clubes de futebol que conseguem conciliar bem os esportes olímpicos. Mas há um novo caminho. Temos que fortalecer os clubes. Mas para isso é preciso sair da cadeira e trabalhar. Isso eu prometi ao pessoal dos esportes olímpicos. Vamos para o deserto juntos e vamos tentar achar água.
RACHA COM A FERJ
A conversa com o Rubinho foi boa. A política é a arte de construir. Eu mesmo já tive muitos problemas. Na época que eu jogava, xingava o Caixa D'Água que era uma festa. Mas a vida vai te ensinando. Vai vendo que não precisa ser a ferro e fogo. Tempos depois ele foi meu professor de sociologia e viramos amigos. Tenho 12 anos dentro do congresso. Aprendi muita coisa. É importante manter uma boa relação, criar um ambiente favorável. Isso que eu queria falar para vocês. O Alcides (Antunes, ex-vice presidente de futebol do clube) vai estar junto para nos ajudar da melhor maneira possível. Como muitos outros que tenham entradas na área financeira, econômica... Pessoas que já se manifestaram a colaborar. Me contaram que certa vez representantes do Flu ficaram com medo de entrar na Federação porque viram determinado dirigente por lá. Eu não tenho medo de me sentar com ninguém. Vou lá para defender o Fluminense. E se me sacanear o pau quebra.
BOM SENSO FC
Vou defender os jogadores. O que eles estão pedindo é verdade. Está mais do que na hora de discutir. Sejam as dívidas, o calendário, o conceito do jogo. É a hora de se criar um marco zero. O futebol precisa ser rediscutido. Não podemos achar normal o Santos ir a Barcelona e perder de 8 a 0. Dou os meus parabéns aos jogadores que estão liderando o movimento. Sempre foi uma luta grande da minha parte. Vamos discutir de forma tranquila.
APOIOS À CANDIDATURA
Tem tanta gente sendo associada a essa candidatura... Aprendi na vida que carinho e gratidão não se prescrevem. Horcades é sócio do clube e carrega a alcunha de ex-presidente. Quero deixar bem claro que não sou candidato do Horcades, do Júlio Bueno, do Zé ou do Mané. Sou de um grupo de pessoas que está insatisfeita. Pessoas que viram que várias promessas não foram cumpridas. Sei que me associar a alguns nomes é a estratégia do outro lado. Mas todos conhecem o histórico do Julio Bueno e a capacidade de mercado espetacular que ele tem. Podem ter certeza de que ele vai me ajudar. Não abro mão de tricolores competentes ao meu lado para que a gente possa resolver os problemas e pensar no futuro. Já conversei com pessoas da Fundação Getúlio Vargas e estamos pensando no que há de mais moderno no mercado. Temos que saber ouvir e decidir. Não preciso de José Bonifácio do meu lado, não preciso de tutor. Preciso de uma equipe competente e isso eu vou ter.
MOMENTO ATUAL DO TIME
Vejo o atual quadro com muita preocupação. Outro dia um amigo me disse: "Se as coisas forem mal no campo é bom para você". Isso é uma coisa sórdida. Jamais eu iria criar como base a torcida para as coisas darem errado. É muito pequeno. Acredito que temos propostas muito boas para não depender disso. Quero o Fluminense bem, cada dia maior, avançando, evoluindo. Tenho isso por característica de vida. Temos que ouvir e buscar o que há de melhor em cada um.
CRÍTICAS À ATUAL GESTÃO
Acho que principalmente não ter se planejado muito bem para esse ano. Não se explode as pontes, se constrói as pontes. Acho que também há descontentamento por algumas promessas não cumpridas. Tenho informações também de que se pagam salários altíssimos. Diante da dificuldade que o clube vive, isso precisa ser reavaliado. Falta mais experiência para lidar com o futebol. Temos que viver em harmonia. Como fazem um contrato de 35 anos com o Maracanã e ninguém tem acesso? Ainda não sabemos se vai ser um sucesso, qual o resultado disso. Em assuntos como esse temos que sentar e discutir até mesmo com nossos rivais. Somos adversários apenas no campo. Nesses tipos de assuntos, Adidas, Maracanã, ou qualquer outro tipo de contrato, eu vou querer dividir a responsabilidade. A decisão final será minha, mas temos que discutir. Nossa administração vai ser transparente. Não vou esconder nada. Quero auditorias anuais. Vamos contratar uma empresa de mercado conceituada.
ELOGIOS À ATUAL GESTÃO
Dizem que ele está tentando, e entendo as dificuldades, dar atenção a Xerém. A partir do momento que quitarmos a dívida, vou querer transformar Xerém. Quem conhece Cotia sabe do que eu estou falando. O São Paulo já conseguiu através da lei mais de R$ 25 milhões. Nós não arrecadamos nada. Isso deveria ser prioridade. Quero resolver essa questão. Não vou demonizar ninguém. Há coisas boas no Fluminense atualmente. O que não for a gente vai começar de novo. Xerém é a minha menina dos olhos. Uma vez por semana pretendo ir lá. Vou colocar um governador lá que vai precisar ser competente e comprometido. É a nossa galinha dos ovos de ouro.
ROMÁRIO
Ali houve um mal entendido. Ia até ligar para o Romário, mas pelo nosso bom relacionamento estou esperando para conversarmos pessoalmente. Espero que ele volte a apoiar a minha candidatura. Falei na audiência pública que o governo dá subsídios para a indústria automobilística, educação, deu anistia para as Santas Casas, para os pequenos agricultores. Os clubes de futebol geram milhões de empregos. Por que não dar para os clubes de futebol?
CT
É fundamental. Tomara que seja verdade (o recebimento do terreno). Vou procurar o Eduardo Paes. O futebol do Rio de Janeiro já perdeu muito tempo. É hora de se recuperar. Não quero uma caça às bruxas. E nem dizer que tudo na atual administração é ruim. O que for bom fica, o que for ruim a gente acha outro caminho.
ADIDAS
Não conheço o contrato com a Adidas. Como não conheço o contrato com o Maracanã. Se tiver a chance de alcançar nossos objetivos, tudo será revisto. Vamos com o pensamento de contribuir para ajudar o Fluminense a crescer ainda mais.
SEDE SOCIAL
A sede social do Fluminense é um dos lugares mais lindos do Rio. Estamos pensando em uma série de coisas. Vamos tentar incentivos através da Lei Rouanet. Queremos captar recursos para a sede. O clube hoje está abandonado. O sócio não vai mais lá, Já imaginou um show nas Laranjeiras? Daríamos prioridades a atletas tricolores. Uma peça de Nelson Rodrigues, um show do Arthur Moreira Lima... Por isso vou usar muito esse rapaz (aponta para Julio Bueno). Uma figura com muito conhecimento de mercado. Quero gente como ele ao meu lado. Não sei o que vai acontecer, mas vamos para o debate de peito aberto, de coração, sem nenhum ódio. O ódio não constrói. Nossos adversários podem ficar tranquilos. Como diria Ulysses Guimarães, perder uma eleição não é feio. Feio é não saber perder. Quero um debate de alto nível. Da nossa parte vocês vão encontrar isso. Mas se me cercar eu ataco. Somos competitivos.
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